sábado, 21 de novembro de 2009

Quantas Geyses?

Os últimos acontecimentos que envolveram Geyse Arruda, estudante da UniBan que foi rechaçada por outros estudantes por usar um vestido muito curto, geraram discussão no Brasil inteiro acerca do machismo e do direito da mulher sobre seu próprio corpo.

Algumas pessoas se disseram surpresas com argumentos do tipo "ela provocou". Acho inadimissível diminuir a capacidade sensível e racional dos homens e colocá-los em um barco de ferozes maníacos que a qualquer momento( especialmente quando reunidos em bando) podem e tem o direito de punir, rechaçar e violentar mulheres simplesmente por não "resguardarem" seus corpos como manda "a moral e os bons costumes".

Ainda que essa violência e tantas outras fruto do machismo e da misoginia seja majoritariamente praticada por homens, ela não é fruto da condição de homem. Ela é fruto de uma educação controvertida, calcada em valores retrógrados e pouco inclusivos.

Essa semana, recebi de uma amiga, uma excelente ilustração de que nao estamos falando de um fenômeno especifico de repressão facilitado pela existência de um grupo numeroso.

Eis o relato original do acontecido na cidade de São Paulo:

"Oi, gente!

Aconteceu uma coisa comigo ontem, que gostaria de dividir com vocês, para que possamos pensar juntos QUE MERDA aconteceu com a nossa sociedade. Digo nossa, não aquela que a gente costumava diferenciar como "os pedreiros da obra", ou "os alunos de classe social baixa", como no caso da Uniban.

É, voltamos ao assunto Geisy, ontem, dia 19/11/2009, por volta das 22:30h, na Avenida Paulista, centro cultural e espinha dorsal da cidade de São Paulo, Brasil, século XXI.

Eu estava saindo de casa, 30 graus lá fora, com o vestido que vocês vêem nessa foto em anexo.

Depois da mobilização de vários homens, manifestando opiniões que deveriam manter para si, vem um cidadão na faixa dos 40 anos e diz às minhas costas: "PUTA MERDA, não vai usar uma roupa sensata?".

Sensata. Pensem no adjetivo. Trinta graus na rua merece uma minissaia, mas eu estava usando, quase como a Geisy, um vestido um palmo acima do meu joelho.

Qual é o problema das pessoas? O que o comentário significa para nós, mulheres, que devemos ser "sensatas"?

O próximo passo é não sair de casa sem a companhia de um macho protetor.

Eu devia ter mandado tomar no cu, assim mesmo, como São Paulo me ensinou, mas ainda estou estarrecida e admirada, porque, como vocês também podem ver na foto, usei esse vestido no Marrocos (com uma calça por baixo, tudo bem) e os muçulmanos não pareceram se importar.

Precisamos voltar a queimar sutiãs, ou chegou a hora de queimar tudo: roupa, sandália, vestido, para ganhar de novo a nossa liberdade? Porque é disso que estamos falando: liberdade, respeito e dignidade.

Um beijao pra todos,

Quel"

Ainda que Geyse Arruda seja um expoente do ápice a que esses problemas podem chegar, não é admissível tratarmos como menores ou menos danosos os absurdos a que nós, mulheres, somos sujeitadas cotidianamente, como fruto da naturalização do machismo.

Um comentário:

  1. Tua clareza e sensatez (no real sentido da palavra) me agradam.
    O fato é que nós mulheres, principalmente as brasileiras, já nos habituamos a andar nas ruas e escutar tais comentários machistas e não fazer nada, lidar com naturalidade com essa brutalidade em que vivemos, então talvez seja um pouco tarde para nos tocarmos que isso é sim uma violência, e que convivemos com ela caladas há séculos, mas não é impossível para que mudemos essa realidade, e eu acho que a principal arma para lutar contra isso está em nós mesmas, como mães.
    Beijo e adorei o teu blog político^^
    Mas não abandone a tua sensiilidade para cheiros e toques ;)

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