Os últimos acontecimentos que envolveram Geyse Arruda, estudante da UniBan que foi rechaçada por outros estudantes por usar um vestido muito curto, geraram discussão no Brasil inteiro acerca do machismo e do direito da mulher sobre seu próprio corpo.
Algumas pessoas se disseram surpresas com argumentos do tipo "ela provocou". Acho inadimissível diminuir a capacidade sensível e racional dos homens e colocá-los em um barco de ferozes maníacos que a qualquer momento( especialmente quando reunidos em bando) podem e tem o direito de punir, rechaçar e violentar mulheres simplesmente por não "resguardarem" seus corpos como manda "a moral e os bons costumes".
Ainda que essa violência e tantas outras fruto do machismo e da misoginia seja majoritariamente praticada por homens, ela não é fruto da condição de homem. Ela é fruto de uma educação controvertida, calcada em valores retrógrados e pouco inclusivos.
Essa semana, recebi de uma amiga, uma excelente ilustração de que nao estamos falando de um fenômeno especifico de repressão facilitado pela existência de um grupo numeroso.
Eis o relato original do acontecido na cidade de São Paulo:
"Oi, gente!
Aconteceu uma coisa comigo ontem, que gostaria de dividir com vocês, para que possamos pensar juntos QUE MERDA aconteceu com a nossa sociedade. Digo nossa, não aquela que a gente costumava diferenciar como "os pedreiros da obra", ou "os alunos de classe social baixa", como no caso da Uniban.
É, voltamos ao assunto Geisy, ontem, dia 19/11/2009, por volta das 22:30h, na Avenida Paulista, centro cultural e espinha dorsal da cidade de São Paulo, Brasil, século XXI.
Eu estava saindo de casa, 30 graus lá fora, com o vestido que vocês vêem nessa foto em anexo.
Depois da mobilização de vários homens, manifestando opiniões que deveriam manter para si, vem um cidadão na faixa dos 40 anos e diz às minhas costas: "PUTA MERDA, não vai usar uma roupa sensata?".
Sensata. Pensem no adjetivo. Trinta graus na rua merece uma minissaia, mas eu estava usando, quase como a Geisy, um vestido um palmo acima do meu joelho.
Qual é o problema das pessoas? O que o comentário significa para nós, mulheres, que devemos ser "sensatas"?
O próximo passo é não sair de casa sem a companhia de um macho protetor.
Eu devia ter mandado tomar no cu, assim mesmo, como São Paulo me ensinou, mas ainda estou estarrecida e admirada, porque, como vocês também podem ver na foto, usei esse vestido no Marrocos (com uma calça por baixo, tudo bem) e os muçulmanos não pareceram se importar.
Precisamos voltar a queimar sutiãs, ou chegou a hora de queimar tudo: roupa, sandália, vestido, para ganhar de novo a nossa liberdade? Porque é disso que estamos falando: liberdade, respeito e dignidade.
Um beijao pra todos,
Quel"
Ainda que Geyse Arruda seja um expoente do ápice a que esses problemas podem chegar, não é admissível tratarmos como menores ou menos danosos os absurdos a que nós, mulheres, somos sujeitadas cotidianamente, como fruto da naturalização do machismo.
Memória
Há 11 anos
Tua clareza e sensatez (no real sentido da palavra) me agradam.
ResponderExcluirO fato é que nós mulheres, principalmente as brasileiras, já nos habituamos a andar nas ruas e escutar tais comentários machistas e não fazer nada, lidar com naturalidade com essa brutalidade em que vivemos, então talvez seja um pouco tarde para nos tocarmos que isso é sim uma violência, e que convivemos com ela caladas há séculos, mas não é impossível para que mudemos essa realidade, e eu acho que a principal arma para lutar contra isso está em nós mesmas, como mães.
Beijo e adorei o teu blog político^^
Mas não abandone a tua sensiilidade para cheiros e toques ;)